A renúncia do Papa e os papas evangélicos que não largam o poder

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Por Hermes C. Fernandes
O Papa Bento 16 anunciou hoje (11) sua renúncia ao pontificado e deve deixar o posto no último dia deste mês. Em comunicado, feito em latim durante uma assembleia de cardeais em que se discutia um processo de canonização, Bento 16 alegou que vai deixar o cargo devido à idade avançada, por “não ter mais forças” para exercer a função. 
“Eu convoquei vocês para este Consistório, não apenas para três canonizações, mas também para comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter repetidamente examinado a minha consciência perante Deus, eu tive a certeza de que minha força, devido à uma idade avançada, não é mais adequada para o ministério Petrino”, disse ele, de acordo com uma declaração do Vaticano. “Por esta razão, e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”, acrescentou o papa. 
O cargo ficará vago até a eleição do próximo papa. 
Aos 78 anos, o alemão Joseph Ratzinger foi um dos cardeais mais idosos a ser eleito Papa. Ele assumiu o posto em meio a um dos maiores escândalos enfrentados pela Igreja Católica em décadas - o escândalo de abuso sexual de crianças por clérigos. Quase oito anos depois de suceder João Paulo II, o mais popular Papa da história da Igreja Católica, Ratzinger, de 85 anos, surpreende o mundo com o anúncio de sua renúncia.  Trata-se de uma atitude raríssima por parte de um pontífice católico, sendo esta a quarta vez em toda a história. A última aconteceu há 600 anos. Antes dele, o Papa Ponticiano deixou a liderança da Igreja Católica no ano de 235. Depois vieram Celestino V, em 1294; Gregório XII, em 1415.

 Um dia antes de divulgar sua renúncia, Bento 16 fez um post em seu perfil no Twitter, no qual dizia que “Devemos confiar no poder da misericórdia de Deus. Somos todos pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova”. O religioso criou seu perfil no Twitter há dois meses apenas.
Dificilmente alguém renunciaria a um dos cargos mais poderosos do mundo. A meu ver, Bento 16 deixa um exemplo que deveria ser seguido por alguns líderes evangélicos que se tornaram verdadeiros papas em suas denominações. Alguns destes, enebriados pelo poder, impedem a emergência de novas lideranças. Como se usa dizer, os tais morrem, mas não largam o osso. Só aceitam passar o cargo se for para as mãos de um filho, e assim, perpetuam-se no poder. 
Espero que o novo papa seja um pouco mais comprometido com as demandas do nosso tempo, trazendo frescor à tão desgastada igreja romana.

Segue abaixo a declaração completa do Papa:


"Caríssimos Irmãos,
Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
BENEDICTUS PP XVI"

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