Por Jorge Fernandes Isah
Primeiro, antes de iniciar as considerações, é necessário definir alguns termos:
a)
Livre-arbítrio - crença de que a vontade humana tem um poder inerente
de escolha com a mesma facilidade entre alternativas. Ou seja, o poder
de escolha contrária ou a liberdade da indiferença. A vontade é livre de
qualquer causação necessária.
b)
Autonomia - qualidade da vontade ou do intelecto que o capacita a
funcionar a favor ou contra qualquer curso particular de ação, por meio
disso exibindo uma capacidade inata.
Definições postas, vamos ater-nos aos pontos chaves que levam à incoerência do livre-arbítrio [1]:
A
idéia do livre-arbítrio é de que dele depende a responsabilidade
humana. Porém, quando se questiona a origem dessa responsabilidade,
tem-se como argumento que ela procede do livre-arbítrio. Está formado o
argumento circular vicioso.
Para
o arminiano, Deus não atropela o livre-arbítrio, logo a vontade humana
não tem causação externa. Desta forma, estão asseguradas a integridade e
a responsabilidade do homem. Porém, se isso não é tolice, é presunção,
porque Deus sempre fará toda a Sua vontade, e nada nem ninguém pode-lhe
frustrar a vontade [Is 46.10]; ao passo que o homem é sempre escravo, seja do pecado, seja da justiça [Rm 6.17-18].
A
vontade se automove em resposta ao que a mente conhece, e pode causar
tanto a ação em resposta às influências como resisti-las. O que me leva à
pergunta: se o conhecimento intelectual [aqui incluidas a moral e a
ética] será o ponto de partida, o príncipio avaliativo da vontade, como a
vontade será livre? Esse conhecimento sempre virá de uma fonte externa e
provavelmente virá como um argumento verdadeiro ou falacioso. Se o
conhecimento for corrompido, manipulado ou integral, quais são as bases
para que ele seja correto? Será possível eu ter esse conhecimento inato
do que é certo e errado sem qualquer influência externa? E a vontade não
poderá ser "induzida" pelo conhecimento adulterado? Ainda que
esse conhecimento seja bíblico, no sentido das informações corretas, o
intelecto pode não processá-las legitimamente, e induzir a vontade a uma
escolha errada.
Para que o homem pudesse escolher "neutramente",
seria necessário que não tivesse nenhum conhecimento, que sua mente
fosse vazia, um ponto morto, mas aí entra a questão: como a vontade
poderia se decidir sem nenhuma base? Na sorte, deixada a cargo do acaso,
seria a opção. Visto a liberdade espontânea do livre-arbítrio somente
nos remeter ao acaso. Mas, e como seríamos responsáveis, já que não
exercemos nenhuma influência causal na decisão?
Portanto
a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade em vez de
apoiá-la. Como posso ser responsabilizado por ações surgidas de um
livre-arbítrio que, pelo fato de ele ser livre, não está também sob o
meu controle? [nem sob o controle divino também, ao ver do arminiano].
Se
um argumento pode levar a vontade a se decidir, onde está a
neutralidade moral? O argumento causou a escolha. A própria Bíblia
deveria ser desconsiderada pelo "livrearbitrista", visto ser ela a
fonte da Lei Moral, a qual estabelece o significado de bem e mal, e
levá-nos a compreensão do que é a santidade e o pecado. Ela nos
influenciará decididamente na escolha entre o que é santo e o que é
pecaminoso. Logo, onde está a neutralidade? E ficam perguntas: Deus é
neutro? As Escrituras são neutras? O mundo é neutro? Em qual aspecto da
vida, seja eterna ou temporal, se percebe neutralidade moral? Ou se está
sob a influência do bem, ou sob a influência do mal. Não existe nada
que seja moralmente neutro, que pratique atos neutros [sem efeito
algum]. Portanto é ilógico dizer que a vontade humana seja neutra, visto
sê-la influenciada por Deus ou satanás. Senão, porque Davi, Isaías e
Paulo diriam que todos pecaram [todos!] e destituídos estão da glória de
Deus? [Sl 14.2-3; Is 59.2-11; Rm 3.23, 5.12]. Se todos pecaram,
somos todos pecadores, a nossa vontade está corrompida, deteriorada, sob
a influência do pecado e sem a menor possibilidade de ser neutra, e
poder escolher o bem. Para que o arminiano não concorde com isso, ele
terá de rejeitar a Bíblia como a palavra inspirada de Deus.
A
questão não é se podemos escolher, mas como e de que forma escolhemos. E
se somos pecadores, a nossa escolha será sempre na direção do pecado,"porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" [Rm 8.7].
Desta forma, a Bíblia afirma que o homem natural é um pecador, o qual é
desprovido da capacidade de obedecer a Deus, tornando-o moralmente
responsável, tenha ou não capacidade moral. O homem será sempre
condenável diante de Deus se não obedecê-lO, ou seja, a desobediência
aos princípios morais estabelecidos pelo Criador é que o tornam
responsável por seus delitos. A responsabilidade moral não está baseada
na capacidade moral [que o homem natural não possui] ou no
livre-arbítrio [que nenhuma criatura possui], mas na autoridade e
soberania de Deus que determinou a não-obediência aos Seus mandamentos
como a causa pela qual o homem será condenado e tornado indesculpável.
Por
isso, pode-se afirmar seguramente que o livre-arbítrio é indefensável,
ilógico e não-factível. A vontade humana é livre em qual sentido? Por
exemplo, um hindu que nasceu no hinduísmo e cuja família se submete ao
regime de castas, e crê na divindade de um inseto, qual seria a sua
capacidade natural de não escolher adorar ao inseto? Para que isso
acontecesse, ele teria de ser confrontado pela verdade, e reconhecer que
tanto o sistema de castas como a adoração ao inseto é uma tolice, uma
mentira que o quer manter escravizado na ignorância de Deus.
Se
ele não for confrotado pela verdade [e a verdade é externa], ele jamais
se livrará da mentira. Por que a mentira é o que ele tem por verdade,
transmitida por sua família e clã [externamente] e o influenciará a
sempre pensar nos seus pressupostos como verdadeiros, quando o que tem
são falsas premissas a induzi-lo ao engano.
Onde
está a neutralidade para que ele possa escolher livremente? Se o
livre-arbítrio é o movimento da mente em certa direção, a neutralidade
poderia levá-lo a essa direção? Ou as influências externas à mente, as
quais está sujeito, determinarão a sua decisão? Então, está claro que
esse movimento da mente não é livre, e de que ninguém toma decisões
livres, mas todas elas estão sujeitas à influência, a fatores causais.
Muitos
arminianos têm certeza de que possuem o livre-arbítrio, apenas porque
presumiram tê-lo; e garantem que não sofrem nenhuma espécie de
influência em suas decisões "livres". Porém, fica a pergunta:
quem tem a certeza de que não está sujeito, ainda que minimamente, a
influências que afetariam a sua vontade? Por exemplo, estar sob o efeito
de medicamentos, bactérias e vírus, ou sob a ação de partículas
subatômicas ou cósmicas. Ou seja, para que essa neutralidade fosse "livre"
teria que, no mínimo, ser onisciente e conhecer exautivamente tudo afim
de se ter certeza de não haver alguma causa a operar sobre a vontade
humana; muito antes de ser confrontado pela cosmovisão cristã. Como
nenhum ser humano é onisciente e apenas Deus o é, o livre-arbítrio não
pode levar jamais o homem a uma escolha neutra, sem influências ou
antecedentes, sem que se detenha qualquer pressuposição.
Para
que a escolha fosse neutra, era preciso que não houvesse o sentido de
bem ou mal [a Lei Moral]. O hindu, sobre a influência do hinduísmo,
entenderá o mal como o bem, e o bem como o mal, "fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" [Is 5.20].
Por si só ele jamais poderá compreender e entender [interiormente] o
significado verdadeiro e real do que é bem e mal a fim de escolher entre
um e outro.
O
livre-arbítrio em si mesmo não detém nem o bem nem o mal, como algo
neutro manteria o indivíduo numa posição de não-escolha, de não-vontade,
onde ele permaneceria num ponto vago, numa posição sem solução, incapaz
de se definir, porque nada lhe é indentificado; e assim, se está nesse
ponto morto, como será levado a agir? Em que bases? Se é neutra, não é
causada, logo, qualquer semelhança com o acaso não é mera coincidência. E
se a mente é levada a agir pelo acaso, como poderá ser
responsabilizada?
A afirmação, "se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis pelas nossas ações",
é verdadeira? Em qual sentido? Quem a provou como verdade? E uma
pergunta muito mais explícita ainda: à luz das Escrituras, qual a
relação entre responsabilidade e liberdade? Onde elas aparecem, e onde
estão especificadas a sua conexão?
São perguntas que o arminiano não se dispõe a responder. Para ele, basta estabelecer o axioma, e pronto. Provar, para quê?
Por
essas e outras, o livre-arbítrio é incoerente, e incapaz de levar o
homem a lugar algum. Como teoria autonomista não encontra respaldo
bíblico, sustentando-se apenas e tão somente pelo seu apelo humanista,
ou seja, antibiblicamente; porque nada mais é do que o desejo de se ter
um poder para decidir independentemente, chegando à blasfêmia de se
cogitar mesmo uma autonomia de Deus. O que não passa de uma estúpida
pretensão ou delírio diabólico, cujo único objetivo é tornar o homem num
"deus" independente e livre de Deus. O que felizmente é impossível.
http://kalamo.blogspot.com.br/2009/12/incoerencia-do-livre-arbitrio.html