Em poucas palavras, o teólogo brasileiro Alfredo Borges Teixeira (1878–1975) explica o sacrifício vicário do Filho unigênito de Deus: “A Jesus foram imputados os pecados dos homens e aos homens foi imputada a justiça de Jesus”.
Alfredo Borges Teixeira
Há uma dupla
transferência: a culpa pelos nossos pecados do passado, do presente e
do futuro passa para Jesus e a justiça dele é transmitida a nós. Há uma
substituição: Jesus recebe em nosso lugar a justa retribuição que nossos
pecados merecem. O resultado é a eliminação definitiva e irrevogável da
nossa culpa pelo cumprimento da punição que ela merece. Esse gesto de
maravilhosa graça proporciona a libertação da culpa do pecado. Quando o
pecador conhece e aceita a oferta de salvação, é salvo e deixa de ser
réu.
O
livramento, embora planejado antes da fundação do mundo (1Pe 1.20) e da
queda do homem e anunciado progressivamente no Antigo Testamento, se
concretiza na Sexta-Feira da Paixão, entre o meio-dia e as três horas da
tarde, em uma colina fora dos muros de Jerusalém, chamada de Lugar da
Caveira, Calvário ou Gólgota (em aramaico). Entre os acontecimentos
misteriosos e aterrorizantes que se deram durante ou logo após a
crucificação de Jesus (escuridão, tremor de terra e abertura de túmulos,
dos quais saíram alguns mortos), o mais significativo foi o rompimento
do véu do templo, que se rasgou de cima a baixo (Mt 27.51). Este sinal
demonstra o sucesso do sacrifício expiatório de Jesus e confirma todos
os seus sete “Eu sou”, notadamente, o “Eu sou a porta” (Jo 10.7), “Eu
sou o bom pastor” (Jo 10.14) e “Eu sou o caminho” (Jo 14.6).
Por causa da
morte vicária, João Batista apresenta Jesus como “o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29); o apóstolo João assevera que “o
sangue de Jesus, o seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7); e
Paulo garante que Deus perdoou todos os pecados e “riscou essa
condenação que pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a completamente e
pregando-a na cruz sobre a sua própria cabeça” (Cl 2.14).
O fato é que
para livrar o pecador da culpa, da dívida, da vergonha, do fardo -- o
Cordeiro de Deus assumiu consciente e voluntariamente a culpa, a dívida,
a vergonha e o fardo do pecador contrito e sofreu o castigo que era
dele.
O complicado
cerimonial provisório do Antigo Testamento perdeu o valor por um
sacrifício melhor, perfeito e único. Porque o sangue de touros e bodes
não pôde, de modo algum, tirar os pecados de ninguém. Jesus, ao entrar
na história, declara: “Estou aqui, ó Deus, para fazer a tua vontade”. E
porque Jesus Cristo fez o que Deus quis, nós somos purificados do
pecado, por meio da oferta de seu corpo uma vez por todas (Hb 10.5-14).
Para ser
salvo sem a obra vicária de Cristo, o ser humano precisaria obedecer à
lei de Deus sem nem um deslize sequer, o que nunca aconteceria. Ou,
então, pagar a dívida contraída pela desobediência, o que ninguém
conseguiria nem nesta vida nem nas chamadas reencarnações. Deus não
aceita boas obras como pagamento da dívida. A única solução está na
obediência ativa e passiva à lei divina, que Cristo realizou no lugar do
pecador.
Alfredo
Borges Teixeira explica que a obediência “ativa” de Cristo consiste no
fato de ele nunca ter pecado e a obediência “passiva” de Cristo consiste
no fato de Jesus ter sido obediente até a morte vicária, por meio da
qual a cortina que separava o absolutamente santo do absolutamente
pecador se rasgou. Essa obediência é o cobertor da salvação, ou o manto
da justiça, com o qual fomos eficazmente cobertos. Em Cristo não somos
mais caloteiros!
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