A
temática apocalíptica tem tido uma ressonância enorme na Rússia. Há
regiões em que os confusos habitantes locais se apressam a comprar
fósforos, sal e bens de primeira necessidade, embora, segundo a
revelação do Santo Apóstolo João, após o Fim dos Tempos não seja preciso
preparar comida nem cuidar da iluminação das casas.
As pessoas não podem saber a data exata da consumação dos séculos. Por
outro lado, se nesse período dramático houver sobreviventes, então o
iminente perigo se resume a uma catástrofe de grandes proporções e nada
mais.
Num bairro social de Moscou, à entrada de um prédio de muitos andares,
pode-se ler um anúncio dizendo que, devido ao apocalipse, os inquilinos
têm de reembolsar suas dívidas aluguel até o dia 21 de dezembro. É mais
ou menos assim, perante os receios, mas sem perder o sentido do humor,
que os moscovitas reagem à celeuma em torno do fim do mundo que se
avizinha, segundo as previsões contidas no calendário maia.
Os habitantes dos EUA foram mais longe do que os russos nos seus
preparativos para o dia do Juízo Final. Ao tomarem a sério esta notícia,
compram armas e munições para resistir ao apocalipse zumbi. É um tema
inspirado pelo Hollywood sobre os mortos-vivos a surgirem na Terra no intuito de devorar os cidadãos pacatos.
Enquanto isso, os sacerdotes aconselham que os paroquianos (ortodoxos,
católicos, luteranos e outros) se dediquem mais à leitura das Escrituras
nas quais se pode encontrar a via de salvação, em vez de correr para a
loja na busca de pilhas para a lanterna elétrica.
Os cientistas, por seu turno, sugerem elevar o nível de educação.
Segundo o historiador Yuri Poliukhovitch, a tribo maia não encarava o
fim do mundo no mesmo sentido que o fazem os portadores da cultura
européia. A diretora do Centro de História e Cultura Maias, Galina
Ershova, indica que o famigerado calendário não contém quaisquer
previsões ou prognósticos sobre o Fim dos Tempos. Na laje, as datas
marcadas devem estar relacionadas, pelos vistos, com o movimento da Lua e
não tem respectivas inscrições ou esclarecimentos. O acadêmico Evgueni
Alexanderov interroga-se - "será que tal confusão na cabeça das pessoas
era possível, por exemplo, nos tempos da guerra? Se calhar, as pessoas
carecem de sensações fortes, visto que milhões de habitantes do planeta
se deixam enganar, acreditando em invencionices incríveis", conclui o perito experiente.
O diretor do Centro Metereológico, Roman Wilfund, afirma ironizando que
em algumas regiões russas o "fim do mundo" já chegou. Em Murmansk e
Norilsk a parte do dia é igual a zero horas e zero minutos. Mas este
"fim dos tempos terminará rapidamente". Em Norilsk, a luz do Sol irá
brilhar apenas no dia 11 de janeiro, salientou.
Em teoria, o apocalipse pode ocorrer em 21 de dezembro tanto quanto em
qualquer outro dia, incluindo o dia de amanhã. É antes uma questão de
crença. Vivemos tempos em que se faz sentir uma fantástica carência de
informações sobre os próximos cinco minutos, para não falar de dias, de
anos e dos decênios que se aproximam.
Significaria isso que para o apocalipse ou, dito de forma mais simples,
para a morte física, as pessoas devam estar bem preparadas? Os fiéis das
várias religiões dizem que sim. A hipótese de que o dia de hoje possa
ser, provavelmente, o último da vida facilita uma especial atitude para
com tudo o que nos rodeia. Supõe-se então que nas derradeiras horas seja
possível sentir a autêntica liberdade e ter um comportamento condigno,
mesmo que, no noutro dia, do horizonte celeste não desçam os cavaleiros
do Apocalipse.