Os evangélicos, por acaso, estão concordando com as suas opiniões?
Valdemar Figueredo
Às vezes,
acerta. Mas, no volume com que se pronuncia, desconfio que não consiga
se lembrar de quando falou demais. Ainda que ninguém tenha perguntado,
ele, exaltado, emite suas opiniões, que mais parecem vereditos. É
verdade que fala em nome dele mesmo; porém, fica parecendo que acredita
piamente que é o grande formador de opinião do rebanho evangélico no
Brasil.
O pastor
midiático escracha geral no mais puro estilo popularesco. Língua solta
mesmo, como a dos seus correspondentes televisivos Wagner Montes (Rede
Record), Ratinho (SBT) e José Luiz Datena (Band). O diferencial de Silas
Malafaia é que, entre os seus arroubos performáticos, ele cita textos
bíblicos para justificar ou legitimar suas falas. Impressiona o quanto é
autoconfiante!
Silas Malafaia
não suporta abreviaturas: LGBT, Iurd, CGADB, CPAD, PL 122, PNDH, PT etc.
Quando se trata de sopa de letrinhas, Malafaia entorna o caldo. O
pastor em questão notabiliza-se pela lista extensa de desafetos: Dilma
Rousseff, Caio Fábio, Marcelo Freixo, Fernando Haddad, Valdemiro
Santiago, Satanás, Marina Silva, Jean Willys, Marco Feliciano e os seus
eventuais sucedâneos. Quem atravessa na frente no feroz profeta pode se
arrepender, pois Silas Malafaia paga para entrar numa briga e, quanto
mais crescem as polêmicas, mais lucra. Quando se trata de osso duro, o
Malafaia não é de roer: prefere triturar. Tudo em nome da verdade. É
claro!
Na década de
1990, na bancada do programa 25ª Hora, que era veiculado na Rede Record
com a direção do pastor Ronaldo Didini, Silas Malafaia ganhou projeção
nacional mostrando destreza nas esgrimas verbais. Na década seguinte, já
distante da Igreja Universal, dona da emissora e que patrocinava o
programa, ele tinha cadeira cativa no debate do Rádio El Shadai da Rádio
93,3 FM do Rio de Janeiro, do grupo de comunicação do deputado federal
Arolde de Oliveira (PSD-RJ). Tanto na TV como no rádio, a liderança de
Silas Malafaia sempre esteve relacionada com um tipo bem peculiar de
apologética.
Rompeu com a
Iurd. Rompeu com a Convenção Geral das Assembleias de Deus, a CGADB.
Rompeu com as alianças políticas de ocasião (FHC, Lula, Garotinho). Não
rompe para sobreviver, mas para crescer. Neste tempo de crescimento,
criou o seu mundo com o poder da sua palavra: uma denominação, a
Assembleia de Deus Vitória em Cristo, fruto de seu desligamento com a
CGADB; um programa de TV diário em rede nacional, o Vitória em Cristo,
exibido por três emissoras abertas; a Associação Vitória em Cristo; a
gravadora Central Gospel; a editora Central Gospel; e o portal Verdade
Gospel.
O pastor Silas Malafaia não me representa. Envergonho-me da forma como se dirige aos evangélicos, das suas grosserias com Bíblia na mão, das suas inserções políticas em período eleitoral. Envergonho-me da nossa falta de vergonha em não desautorizá-lo.
Olhando para as
igrejas evangélicas no Brasil, é o caso de se perguntar: por que a
atuação de Silas Malafaia provoca esse emudecimento geral? Os crentes,
por acaso, estão concordando com as suas opiniões? Os intelectuais
evangélicos comentam à boca miúda, nos seus congressos vazios, os
horrores malafalianos – mas não passa disso. Em seus gabinetes, pastores
dizem que não concordam com muita coisa que ele faz e fala, mas não vêm
a público afirmar isso. Parece que poucos estão dispostos a
desautorizá-lo a falar em nome do grupo religioso que eles também
representam. Pelo tempo decorrido desde que Silas Malafaia tornou-se o
que é hoje, já era para a fase da perplexidade ter passado. A grande
mídia evangélica não tem tradição de debate; prefere anunciar produtos a
publicar ideias. Quanto aos pastores, perderam a voz ou consentem com o
silêncio.
Fico na
expectativa de que alguém por perto diga a ele que tamanha exposição
gera uma monstruosa vulnerabilidade. Silas Malafaia tem muitos exemplos
de quedas monumentais de pessoas que, como ele, partiram para uma
superexposição midiática a fim de anunciar Evangelho e acabaram se
perdendo: foram longe demais e esqueceram o caminho de volta. Já foi
provado que a igreja eletrônica gera mais antipatia do que conversos;
enche mais bolsos do que almas; constrói mais celebridades do que gente;
reúne mais multidão do que rebanho.
Tomara que, no
futuro, este texto soe ridículo. Algo do tipo: devaneios de um
recalcado. A esta altura do campeonato, contudo, falo somente por mim: o
pastor Silas Malafaia não me representa. Envergonho-me da forma como se
dirige aos evangélicos. Envergonho-me das suas grosserias com Bíblia na
mão desancando a sociedade brasileira. Envergonho-me das suas inserções
políticas em período eleitoral, plantando factoides. Envergonho-me da
nossa falta de vergonha em não desautorizá-lo.
Publicado em Revista Cristianismo Hoje
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