A alma do negócio está em alta no meio Evangélico

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Por Clóvis Cabalau
Chega a ser cômico a atitude de certos líderes religiosos e pregadores que usam de jogada de marketing para se auto-promover, usando, claro, a máscara de “homens de Deus propagando o Evangelho”. Seria como dizer que Jesus precisa de propaganda para que vidas sejam alcançadas por Ele, ou que uma forcinha publicitária é sempre bem-vinda em nome “do Reino”. Um exemplo que me deixa com a pulga atrás da orelha: pregador itinerante, que percorre o país com sermões pré-fabricados, cartazes e DVDs embaixo do braço, negociando seus shows de fogo (estranho). Fui testemunha ocular de um certo pastor dessa linha, que ao final do culto, depois de “ministrar” piadinhas acompanhadas de trejeitos teatrais durante meia-hora, se posicionou na saída para vender seus produtos sem o menor constrangimento. “Não esqueçam de fazer a feira”, bradava para os irmãos que saíam e, ao mesmo tempo, eram constrangidos a levar um de seus DVDs “ungidos”.
Não pensem que estou pondo no mesmo saco todos os pregadores itinerantes. Não é isso. Apenas chamo a atenção dos crentes pensantes para que avaliem a postura dessas pessoas. É pelo fruto que se conhece a árvore. Acho estranho, por exemplo, líderes sem igreja ou que se auto-proclamam profetas com certo ar de soberba; pastores sem cobertura espiritual; ou pregadores que mais parecem comediantes do tipo stand-up.
Certa vez, um irmão relatou-me ter sido testemunha de um episódio protagonizado por um pregador que, ao fim da mensagem, “profetizou”: “Deus está me revelando que as 40 primeiras pessoas que comprarem o meu DVD vão receber uma bênção especial”. Fala sério?!
Noutra situação tive o desprazer de testemunhar um pastor “brincar”, ao ser convidado para orar pelos dízimos e pelas ofertas, pedindo que os irmãos ficassem de pé e que “dessa forma ficava mais fácil de tirar a carteira do bolso”. Brincadeira ou não, foi de péssimo gosto, do tipo que incentiva qualquer descrente a sair da igreja e nunca mais voltar. Na mesma linha, vi (ninguém me contou) um certo pregador famoso (e adepto de suspensórios) pronunciar, durante um grande evento a céu aberto, a seguinte pérola: “E aí, gostaram? Pois aqui é como num restaurante, primeiro a gente se alimenta, depois tem de pagar a conta”.
Meu pastor conta como sendo história verídica o caso de uma igreja que afixou na porta o seguinte cartaz: “Aqui o dízimo é só 7%”. E aqueles anúncios que dão ordens a Deus? Esses são ótimos: “A cruzada vai ser do fogo: Deus vai curar, Deus vai operar, Deus vai abençoar, Deus vai fazer isso e aquilo outro”… Só faltam dizer “…e aí Dele se não fizer o que eu estou dizendo para Ele fazer”.
Em meio à onda de marketing que vem impregnando o Evangelho país afora, oro pela preservação da Palavra pura e simples; pelo fortalecimento de igrejas sérias e comprometidas com a verdade de Jesus; por pregadores que não se vendam aos apelos de Mamon; por missionários genuínos (e louvo a Deus porque há muitos espalhados pelo mundo), cheios da graça, incorruptíveis, firmados na Rocha Eterna. Vibro quando vejo um pregador falar com humildade e graça, cristrocentrando seu sermão na mensagem da cruz, do sangue, da graça, do arrependimento, da mudança, da salvação em Jesus.
Logo, a meu ver, propaganda e Evangelho têm pontos que muito se distanciam. A primeira é a alma do negócio. O segundo, jamais pode ser encarado como um negócio. A primeira existe para estimular o consumo, com apelos de imagem e mensagens sugestivas. O segundo, não nasceu para ser consumido, mas vivido, sendo o eixo principal das igrejas (como organismos e não como organizações) que remam contra a maré deste mundo. Amém.

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Clóvis Cabalau é jornalista, chargista e abre os olhos dos crentes com suas publicaçoes no Púlpito Cristão

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