Nós acordamos com ele, nos comunicamos por meio dele e trabalhamos com ele. Às vezes, acordamos no meio da noite para consultá-lo. E se o perdemos ficamos sem saber o que fazer.
O mundo de hoje é inimaginável sem o telefone celular. Tanto é que muitos ficam obcecados pelo aparelho.
Mas, nos últimos anos, com o aumento dos casos de câncer - uma das principais causas de morte em todo o mundo - vêm crescendo as preocupaçõs sobre as possíveis ligações entre os celulares e o risco de desenvolver tumores malignos.
© Getty Images O debate sobre os riscos do celular para a saúde ainda não tem claras conclusões
"Nas últimas décadas foi realizado um grande número de pesquisas para analisar se as ondas de rádio frequência (RF) colocam em risco a nossa saúde", disse à BBC Emilie van Deventer, diretora do Programa de Radiação do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"À medida que mais ondas de RF têm aparecido em nossas vidas, a questão a ser resolvida é se existem efeitos adversos por parte de celulares, torres de telefonia ou conexões wi-fi a níveis de exposição ambiental."
Van Deventer diz que as pesquisas também tentam analisar problemas de fertilidade e hipersensibilidade.
Mas até agora, a resposta tem sido ambígua.
'Riscos Potenciais'
As ondas de RF dos celulares são "uma forma de energia eletromagnética que está entre ondas de rádio FM e as microondas. E é uma forma de radiação não-ionizante", explica em seu site a Sociedade Americana Contra o Câncer (ACS, na sigla em inglês).
De acordo com a organização, essas ondas "não são fortes o suficiente para causar câncer", porque, ao contrário dos tipos mais potentes de radiação (ionizantes), não podem quebrar ligações químicas no DNA.
© Getty Images Mobile World Congress 2016
Isso só aconteceria, eles explicam, em níveis "muito altos", tais como em fornos de microondas.
No entanto, a questão está sendo revista. Emilie van Deventer - autora de cerca de 50 publicações científicas sobre radiações não-ionizantes - diz que a OMS está investigando o tema novamente.
Embora faltem provas, é certo que há "potenciais riscos a longo prazo", especialmente relacionados a tumores na cabeça e pescoço, diz a especialista.
A ACS também aborda esta questão: "Quanto mais próximo estiver a antena (do celular) da cabeça, espera-se que maior seja a exposição da pessoa à energia de RF", adverte.
Taxa de absorção específica e outros sinais
Quando os tecidos do nosso organismo podem absorver essa energia, os especialistas chamam isso de "taxa de absorção específica" (ou SAR, na sigla em inglês).
© Getty Images A torres de telefonia também emitem energía electromagnética.
Cada celular tem seu nível SAR que, em geral, pode ser encontrado no site do fabricante. Nos Estados Unidos, o nível máximo permitido é de 1,6 watts por quilograma (W/kg).
No entanto, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos EUA, adverte que "comparar valores de SAR entre telefones pode causar confusão", porque essa informação é baseada no funcionamento do aparelho em sua potência mais elevada, e não o nível de exposição em uso normal.
Mas também há pesquisas que associam o uso do telefone celular com câncer de pele e câncer de testículo.
Para fazer essas análises, os pesquisadores usam dois tipos de estudos: de laboratório (com animais) e em pessoas (comparando as taxas de câncer).
O problema, explica Van Deventer, é que "muitos cânceres não são detectáveis até muitos anos após as interações que causaram o tumor, e como o uso de celular não foi popularizado até os anos 1990, estudos epidemiológicos só podem avaliar os cânceres que se fizeram evidentes em períodos de tempo mais curtos".
Até agora, o maior estudo já realizado é o Interphone, uma investigação em grande escala que foi coordenado pela OMS por meio de sua Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês), na qual os dados de 13 países, incluindo Reino Unido, Austrália, Japão e Canadá foram analisados.
O estudo analisou o uso de celular em mais de 5.000 pessoas com tumores cerebrais e em um grupo similar de pessoas sem tumores.
"Nenhuma ligação foi encontrada entre o desenvolvimento de gliomas e meningiomas (tumores cerebrais) e o uso de telefones celulares por mais de 10 anos", diz Van Deventer.
"Mas há indicações de um possível risco de gliomas entre os 10% das pessoas que disseram ter usado seus telefones com mais frequência, embora os pesquisadores concluíssem que erros retiraram força destes resultados", acrescentou o especialista.
No final, IARC classificou as radiofrequências eletromagnéticas como "possíveis cancerígenos para os seres humanos", uma categoria "utilizada quando a relação causal é considerada confiável, mas as oportunidades, distorções ou confusões não podem ser razoavelmente geridos", diz Van Deventer.
© Getty Images As ondas de radiofrequência dos celulares são de baixa potência, mas seu impacto na saúde preocupa os cientistas.
Essas limitações têm a ver com a nossa dificuldade em lembrar quantas vezes usamos o telefone durante uma década e também com a mudança de uso do celular ao longo do tempo, e as complicações no estudo de cânceres cerebrais.
© Getty Images Segundo especialistas, uso de celular tem "riscos potenciais a longo prazo"
Mas a questão permanece sobre a mesa (e no laboratório) de cientistas de todo o mundo.
A OMS espera publicar, até ao final de 2017, uma "avaliação de risco formal" sobre esta questão, conta Van Deventer.
Também é preocupante a vulnerabilidade especial das crianças, porque seus sistemas nervosos ainda estão em formação.
Já se realizou um estudo em grande escala sobre o assunto e há outro em curso na Austrália, cujos resultados serão publicados em breve.
© Getty Images O uso do celular se popularizou nos anos 1990
Medidas de prevenção
Enquanto isso, alguns dizem que é melhor prevenir do que remediar.
Nesse sentido, Van Deventer recomenda o seguinte:
- Usar fones de ouvido ou deixar o celular no viva-voz, para mantê-lo longe de sua cabeça
- Limitar o número e a duração das chamadas
- Usar o telefone em áreas de boa recepção, pois isso faz com que o celular transmita com uma potência de saída reduzida
A Sociedade Americana do Câncer recomenda enviar mais mensagens do que ligar e limitar o uso do celular. Outra opção é escolher um telefone com um valor de SAR reduzido (menos níveis de ondas de RF).
Mas nem todas as prevenções são bem-vindas pela ciência.
"O uso de protetores de celular para absorver a energia de radiofrequência não se justifica e a eficácia de muitos dispositivos comercializados para reduzir a exposição não foi comprovada", diz Van Deventer.
FONTE:
http://www.msn.com/pt-br/noticias/ciencia-e-tecnologia/qu%C3%A3o-perigosa-%C3%A9-a-radia%C3%A7%C3%A3o-de-celulares-e-como-voc%C3%AA-pode-se-proteger/ar-AAkl7xZ?ocid=mailsignout
O mundo de hoje é inimaginável sem o telefone celular. Tanto é que muitos ficam obcecados pelo aparelho.
Mas, nos últimos anos, com o aumento dos casos de câncer - uma das principais causas de morte em todo o mundo - vêm crescendo as preocupaçõs sobre as possíveis ligações entre os celulares e o risco de desenvolver tumores malignos.
© Getty Images O debate sobre os riscos do celular para a saúde ainda não tem claras conclusões
"Nas últimas décadas foi realizado um grande número de pesquisas para analisar se as ondas de rádio frequência (RF) colocam em risco a nossa saúde", disse à BBC Emilie van Deventer, diretora do Programa de Radiação do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"À medida que mais ondas de RF têm aparecido em nossas vidas, a questão a ser resolvida é se existem efeitos adversos por parte de celulares, torres de telefonia ou conexões wi-fi a níveis de exposição ambiental."
Van Deventer diz que as pesquisas também tentam analisar problemas de fertilidade e hipersensibilidade.
Mas até agora, a resposta tem sido ambígua.
'Riscos Potenciais'
As ondas de RF dos celulares são "uma forma de energia eletromagnética que está entre ondas de rádio FM e as microondas. E é uma forma de radiação não-ionizante", explica em seu site a Sociedade Americana Contra o Câncer (ACS, na sigla em inglês).
De acordo com a organização, essas ondas "não são fortes o suficiente para causar câncer", porque, ao contrário dos tipos mais potentes de radiação (ionizantes), não podem quebrar ligações químicas no DNA.
© Getty Images Mobile World Congress 2016
Isso só aconteceria, eles explicam, em níveis "muito altos", tais como em fornos de microondas.
No entanto, a questão está sendo revista. Emilie van Deventer - autora de cerca de 50 publicações científicas sobre radiações não-ionizantes - diz que a OMS está investigando o tema novamente.
Embora faltem provas, é certo que há "potenciais riscos a longo prazo", especialmente relacionados a tumores na cabeça e pescoço, diz a especialista.
A ACS também aborda esta questão: "Quanto mais próximo estiver a antena (do celular) da cabeça, espera-se que maior seja a exposição da pessoa à energia de RF", adverte.
Taxa de absorção específica e outros sinais
Quando os tecidos do nosso organismo podem absorver essa energia, os especialistas chamam isso de "taxa de absorção específica" (ou SAR, na sigla em inglês).
© Getty Images A torres de telefonia também emitem energía electromagnética.
Cada celular tem seu nível SAR que, em geral, pode ser encontrado no site do fabricante. Nos Estados Unidos, o nível máximo permitido é de 1,6 watts por quilograma (W/kg).
No entanto, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos EUA, adverte que "comparar valores de SAR entre telefones pode causar confusão", porque essa informação é baseada no funcionamento do aparelho em sua potência mais elevada, e não o nível de exposição em uso normal.
Mas também há pesquisas que associam o uso do telefone celular com câncer de pele e câncer de testículo.
Para fazer essas análises, os pesquisadores usam dois tipos de estudos: de laboratório (com animais) e em pessoas (comparando as taxas de câncer).
O problema, explica Van Deventer, é que "muitos cânceres não são detectáveis até muitos anos após as interações que causaram o tumor, e como o uso de celular não foi popularizado até os anos 1990, estudos epidemiológicos só podem avaliar os cânceres que se fizeram evidentes em períodos de tempo mais curtos".
Até agora, o maior estudo já realizado é o Interphone, uma investigação em grande escala que foi coordenado pela OMS por meio de sua Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês), na qual os dados de 13 países, incluindo Reino Unido, Austrália, Japão e Canadá foram analisados.
O estudo analisou o uso de celular em mais de 5.000 pessoas com tumores cerebrais e em um grupo similar de pessoas sem tumores.
"Nenhuma ligação foi encontrada entre o desenvolvimento de gliomas e meningiomas (tumores cerebrais) e o uso de telefones celulares por mais de 10 anos", diz Van Deventer.
"Mas há indicações de um possível risco de gliomas entre os 10% das pessoas que disseram ter usado seus telefones com mais frequência, embora os pesquisadores concluíssem que erros retiraram força destes resultados", acrescentou o especialista.
No final, IARC classificou as radiofrequências eletromagnéticas como "possíveis cancerígenos para os seres humanos", uma categoria "utilizada quando a relação causal é considerada confiável, mas as oportunidades, distorções ou confusões não podem ser razoavelmente geridos", diz Van Deventer.
© Getty Images As ondas de radiofrequência dos celulares são de baixa potência, mas seu impacto na saúde preocupa os cientistas.
Essas limitações têm a ver com a nossa dificuldade em lembrar quantas vezes usamos o telefone durante uma década e também com a mudança de uso do celular ao longo do tempo, e as complicações no estudo de cânceres cerebrais.
© Getty Images Segundo especialistas, uso de celular tem "riscos potenciais a longo prazo"
Mas a questão permanece sobre a mesa (e no laboratório) de cientistas de todo o mundo.
A OMS espera publicar, até ao final de 2017, uma "avaliação de risco formal" sobre esta questão, conta Van Deventer.
Também é preocupante a vulnerabilidade especial das crianças, porque seus sistemas nervosos ainda estão em formação.
Já se realizou um estudo em grande escala sobre o assunto e há outro em curso na Austrália, cujos resultados serão publicados em breve.
© Getty Images O uso do celular se popularizou nos anos 1990
Medidas de prevenção
Enquanto isso, alguns dizem que é melhor prevenir do que remediar.
Nesse sentido, Van Deventer recomenda o seguinte:
- Usar fones de ouvido ou deixar o celular no viva-voz, para mantê-lo longe de sua cabeça
- Limitar o número e a duração das chamadas
- Usar o telefone em áreas de boa recepção, pois isso faz com que o celular transmita com uma potência de saída reduzida
A Sociedade Americana do Câncer recomenda enviar mais mensagens do que ligar e limitar o uso do celular. Outra opção é escolher um telefone com um valor de SAR reduzido (menos níveis de ondas de RF).
Mas nem todas as prevenções são bem-vindas pela ciência.
"O uso de protetores de celular para absorver a energia de radiofrequência não se justifica e a eficácia de muitos dispositivos comercializados para reduzir a exposição não foi comprovada", diz Van Deventer.
FONTE:
http://www.msn.com/pt-br/noticias/ciencia-e-tecnologia/qu%C3%A3o-perigosa-%C3%A9-a-radia%C3%A7%C3%A3o-de-celulares-e-como-voc%C3%AA-pode-se-proteger/ar-AAkl7xZ?ocid=mailsignout