“Estamos correndo todo esse
risco para quê? Precisamos urgentemente acabar com essas falsas
garantias, com o adoçamento das amargas verdades.
A população precisa decidir
se deseja continuar no caminho atual, e só poderá fazê-lo quando estiver
em plena posse dos fatos. Nas palavras de Jean Restand: a obrigação de
suportar nos dá o direito de saber.”
Publicadas em 1962, no livro “Primavera Silenciosa“, as palavras da bióloga norte-americana Rachel Carson nunca estiveram tão atuais.
No caminho oposto à Dinamarca (primeiro
país do mundo que terá agricultura 100% orgânica por lei), no Brasil, a
grande maioria da população ingere grandes quantidades de agrotóxicos.
Sem saber.
Uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo
revelou que é quase certo que a fruta, o legume e a verdura que chegam
atualmente à mesa dos brasileiros não tenham passado por nenhum controle
rígido dos níveis de agrotóxicos. Segundo a publicação, a fiscalização,
quando é feita, atinge somente uma fração pequena dos produtos e
reprova até um terço deles.
O Brasil é uma potência na produção de
alimentos ocupando a segunda posição entre os maiores produtores do
mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas é o primeiro no que diz
respeito ao consumo de agrotóxicos. Desde 2008, o país é o maior
consumidor mundial destes produtos. Aliado ao crescimento do plantio de
culturas transgênicas no país, o mercado de agrotóxicos cresceu
mais de 400% nos últimos dez anos. Na safra de 2013/2014, foram
utilizados cerca de 1 bilhão de litros de agrotóxicos, o que gera uma
média de 5 litros de veneno por habitante, de acordo com especialistas.
Entre as substâncias usadas no
país estão algumas potencialmente cancerígenas, parte delas banidas da
União Europeia e de países como China e Índia.
Um estudo publicado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pelo Instituto Nacional do Câncer (Ministério da Saúde) revelou uma situação assustadora sobre o uso de agrotóxicos no país.
Segundo o documento, os impactos na
saúde pública são amplos, atingem vastos territórios e envolvem
diferentes grupos populacionais, como trabalhadores em diversos ramos de
atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos
nós, que consumimos alimentos contaminados.
Tais impactos estão associados ao atual
modelo de desenvolvimento do país, voltado prioritariamente para a
produção de bens primários para exportação. Mas esta estratégia não
surte efeito, já que atualmente, a taxa de aumento de uso de agrotóxicos
no país é maior que o crescimento de produtividade, um indicador de que
o Brasil está a utilizar mais produtos químicos para produzir a mesma
quantidade de alimentos.