Muitos pais têm dificuldade para conversar com os filhos sobre conteúdo sexual na rede
Jeanne, de Nova York, toma cuidado com os conteúdos visualizados pela filha Jillian, de seis anos
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Randy Harris / NYTNS
Amy O'leary
Os pais aprenderam a esperar e, muitas vezes, a odiar duas conversas sobre sexo com seus filhos: a primeira lição sobre "de onde vêm os bebês" e uma discussão mais delicada sobre como levar uma vida sexual saudável quando se é um jovem adulto.
Mas agora eles estão enfrentando uma terceira: a conversa sobre pornografia.
Não existe um roteiro pronto, nem um momento previsível para o
diálogo. Ele pode acontecer aos 6 ou 7 anos, quando a criança talvez
ainda não compreenda os mecanismos básicos do sexo. Normalmente, a
conversa ocorre após um passeio acidental de uma criança pela internet,
ou após a busca deliberada de um adolescente curioso em um smartphone,
laptop, tablet ou um dos outros aparelhos que tornaram quase impossível
crescer sem se deparar com materiais sexualmente explícitos. Até mesmo
uma pequena busca no Twitter ou no Facebook revela relatos, normalmente
seguido por exclamações, de estudantes mais velhos que afirmam ter visto
pornografia nos computadores ou celulares de colegas de classe.
Conforme disse Elizabeth Schroeder, diretora executiva da Answer, uma
organização nacional de educação sexual com sede na Universidade
Rutgers:
— Seu filho verá pornografia em algum momento. Isso é inevitável.
— Seu filho verá pornografia em algum momento. Isso é inevitável.
Em seguida, os pais são confrontados com um novo dilema da era
digital: É melhor tentar proteger os filhos de conteúdos explícitos, ou
aceitar que eles são tão generalizados que se tornaram um fato da vida, e
que requerem uma conversa especial?
O senso comum afirma que regras estritas sobre o tempo passado em
frente a uma tela de computador e a instalação de filtros irão resolver o
problema. Entretanto, em vista do número de telas, grandes ou pequenas,
que preenchem uma casa comum, essas estratégias podem ser tão eficazes
quanto construir um abrigo na areia enquanto a maré está subindo.
Alguns pais ensinam seus filhos a fugir de materiais explícitos, tão
logo um deles apareça, enquanto outros tentam ser o mais abertos
possível, filtrando os conteúdos quando as crianças são pequenas e
contando com controles menos rígidos e conversas francas com os
adolescentes.
— Eu me lembro de como reagi quando meus pais disseram, algo como
'Ah, não, isso é horrível!' — afirmou Chaz, consultor de software e pai
de dois filhos que vive em Minneapolis. (Assim como muitos pais
entrevistados para esse artigo, ele pediu para que seu sobrenome não
fosse divulgado, de modo a proteger a privacidade de seus filhos.)
Ele se lembrava com clareza de como estava desesperado para olhar uma revista Playboy quando tinha 14 anos.
— É o máximo da estupidez acreditar que meu filho não é assim — afirmou.
Ele se lembrava com clareza de como estava desesperado para olhar uma revista Playboy quando tinha 14 anos.
— É o máximo da estupidez acreditar que meu filho não é assim — afirmou.
A conversa sobre pornografia que ele teve há pouco tempo com seu
filho de 12 anos foi iniciada por uma fatura cobrando um aplicativo do
iTunes que mostra 1001 fotos de seios.
Ao invés de ficar bravo e dar uma bronca por causa da compra, ele se
sentou com seu filho, perguntou se ele e seus amigos estavam
interessados nesse tipo de conteúdo e, em seguida, explicou que havia
instalado em sua rede um filtro de bloqueio, o OpenDNS, para impedir que
ele acessasse os piores tipos de conteúdo.
É natural ficar curioso, ele falou para seu filho, acrescentando que,
se ele planejasse olhar para conteúdos explícitos, ele deveria entrar
em um site em particular, cujo acesso ele havia liberado, e que mostra
fotos de mulheres nuas não muito mais picantes do que as que apareceriam
na edição de roupas de banho da revista Sports Illustrated.
Após preverem que, cedo ou tarde, seus filhos iriam procurar
pornografia, outros pais tentaram ensiná-los a ser, na realidade,
consumidores responsáveis: eles lhes mostraram como ser discretos,
apagando os históricos de navegação e evitando a instalação de malwares,
e os instruíram a nunca compartilhar fotos de si mesmos ou conteúdos
explícitos com outras pessoas, especialmente crianças pequenas.
(Especialistas alertam que mostrar materiais com conteúdos sexualmente
explícitos para menores de idade poderia violar as leis de "proteção ao
menor" em alguns estados.)
Contudo, muitos pais escolhem uma abordagem diferente. Patti Thomson,
por exemplo, afirmou que acredita que seu dever como mãe é o de
proteger seus cinco filhos, com idades entre 7 e 15 anos, dos conteúdos
explícitos, mesmo que isso a tenha levado a gastar várias horas em
frente a manuais de usuário e controles de acesso aos computadores de
sua casa em Reading, Massachusetts.
— Hoje em dia, a coisa está maluca — ela afirmou, horrorizada com a
quantidade de material pornográfico à disposição na internet. — Eu
realmente quero protegê-los até que eles cheguem a uma idade em que
consigam lidar com isso.
Quando ela descobriu que o iPod Touch que havia dado de presente aos
filhos também podia ser usado para navegar na internet, ela ficou tão
chateada que pegou os aparelhos de volta até que pudesse descobrir como
desabilitar a conexão com a internet. Ela também ligou para a Apple para
pedir que colocassem um aviso nas caixas.
Meses mais tarde, ela ficou feliz em descobrir um navegador móvel, o
Mobicip – projetado para aparelhos como iPod Touch, iPhone, iPad e
aparelhos com sistema operacional Android, como o Kindle Fire – que
facilita a configuração rápida e bloqueia conteúdos por idade ou por
categoria, como pornografia, bate-papo ou videogame.
Às vezes, os perigos se escondem onde os pais menos esperam. Jeanne
Sager, que mantém um blog sobre criação de filhos, acreditou que seria
seguro para sua filha Jillian, de seis anos, assistir os vídeos do "Meu
Pequeno Pônei". Mas quando ela deixou a sala por um momento, ouviu algo
que não parecia nem um pouco com um desenho.
Sua filha havia sido levada a um vídeo explícito ao clicar em um link
relacionado, em uma lista à direita do player. Essa é uma das
reclamações mais comuns entre os pais que descobrem que seus filhos
foram expostos a conteúdos sexualmente explícitos na internet – que
alguns cliques no YouTube podem levar a criança a um território
inesperado, como um subgênero de pornografia no qual personagens de
desenhos populares, como o Batman ou o Mario Bros., são dublados com uma
trilha sonora alternativa e editados de forma a mostrar as personagens
envolvidas em atos explícitos.
Nesse caso, Sager simplesmente falou para sua filha que "existem
alguns vídeos que ela não deveria assistir", e se assegurou de que ela
entendesse que não havia feito nada de errado. Mais tarde, ela
configurou um usuário específico para sua filha no computador, com seus
sites prediletos marcados como favoritos e com um bloqueio ao YouTube.
Entretanto, muitos pais não reagem com calma, afirmou Schroeder, da organização Answer.
Eles podem se perguntar sobre o que há de errado com seus filhos, ou
se aquilo que eles viram irá traumatizá-los pela vida toda. Segundo ela,
nenhuma das hipóteses está correta. O maior dano – e vergonha –
potencial vem da reação dos pais.
— Se nós reagirmos bruscamente e ficarmos loucos com isso, estaremos
transmitindo uma mensagem muito dura — afirmou, uma mensagem que pode
fazer com que as crianças sintam que não podem fazer perguntas a seus
pais sem que sejam julgadas ou punidas.
Mas, segundo os especialistas, o erro mais comum cometido pelos pais é
esperar até que ocorra algum incidente para ter essa conversa.
— Isso tudo é muito mais fácil quando não é o assunto da primeira
conversa sobre sexo com os pais, mas a décima, ou a vigésima — afirmou
Marty Klein, um terapeuta familiar e sexual de Palo Alto, na Califórnia,
que encoraja os pais a serem francos e diretos nas conversas com seus
filhos.
Entretanto, uma vez que muitos pais não gastam muito tempo pensando
sobre essa conversa em especial, as palavras que eles escolhem
frequentemente não refletem aquilo que eles gostariam de ter dito.
Em retrospectiva, uma conversa familiar improvisada levantou questões
sobre como meninos e meninas são tratados de maneira diferente.
Bonnie, uma administradora universitária da Carolina do Norte que tem
um filho adolescente e duas enteadas, só notou que ela e seu marido
estavam transmitindo mensagens não intencionais depois de conversar
sobre o assunto, ao enfatizar a segurança e a autoproteção para as
meninas e os limites para seu filho.
— Mais tarde, nós notamos como aquilo era terrivelmente sexista, ainda que de forma inconsciente — afirmou.
Dana, uma mãe divorciada de três filhos em Massachusetts, presumiu
que seus filhos iriam procurar pornografia e achou que era normal que
seu filho de 9 anos quisesse ver fotos de mulheres peladas. Mas quando
ele tinha 13 anos, ele perguntou por que as mulheres gostavam de ser
enforcadas. Então, ela percebeu que precisava explicar para ele que a
pornografia não é real e que aquelas pessoas eram atores pagos. Ela a
comparou com a luta livre, já que seus filhos sabiam que ela aquilo era
falso.
Diferentemente de muitos pais, Dana teve uma oportunidade de ajudar
seu filho a entender o que o havia incomodado, razão pela qual os
terapeutas como Klein afirmam que a melhor proteção contra qualquer dano
potencial é manter uma linha de comunicação aberta.
— Nós não vamos voltar para os anos 1950, para um mundo onde não havia aparelhos móveis e aplicativos — acrescentou
— Nós não vamos voltar para os anos 1950, para um mundo onde não havia aparelhos móveis e aplicativos — acrescentou
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