Segundo a mídia italiana, dossiê alega que sacerdotes eram “unidos pela orientação sexual”
Vaticano rebate as reportagens “falsas e nocivas”
Repórter
DAILY MAIL
O Vaticano respondeu às reportagens
da mídia italiana que consideravam a renúncia do Papa como em razão de um
dossiê secreto, segundo o qual haveria uma “rede homossexual” dentro do clero.
A maioria dos jornais italianos
publicou reportagens sem fontes afirmando que um dossiê montado por três
cardeais revelava uma rede secreta de bispos que haviam organizado orgias
homossexuais e sofrido chantagem.
Segundo o jornal La Repubblica, as alegações explosivas
teriam sido feitas em um relatório elaborado durante o escândalo do “Vatileaks”,
que foi apresentado ao Pontífice por volta de 17 de dezembro.
Mas hoje o Vaticano acusou a mídia
italiana de espalhar “reportagens falsas e nocivas” na tentativa de influenciar
cardeais que irão se reunir em um conclave secreto no mês que vem para eleger o
novo Papa.
Papa Bento 16 |
Eles iniciaram a investigação
depois que o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, foi preso e acusado de roubar e
vazar correspondências papais que revelavam que o Vaticano era um centro de
brigas e intrigas.
O jornal La Repubblica afirma que o Papa Bento XVI renunciou por não ser
capaz de enfrentar as repercussões de lidar com o dossiê de 300 páginas; o
primeiro pontífice a renunciar em 700 anos.
Segundo o jornal, a investigação
havia descoberto um lobby gay dentro da Igreja, que teria algum tipo de
controle sobre as carreiras dos membros do Vaticano.
Nem confirmação nem negação: padre Lombardi, porta-voz do Vaticano |
“Os pontos de encontro incluíam uma
vila fora da capital italiana, uma sauna no subúrbio de Roma, um salão de
beleza no centro, uma antes residência universitária utilizada por um arcebispo
italiano”.
O jornal afirma ainda que os cardeais
descreveram um número de “facções” no relatório, incluindo uma cujos membros são
“unidos pela orientação sexual”.
Ainda segundo o jornal, o dossiê
declara que membros desse grupo estavam sendo chantageados por leigos com quem mantinham
relações de “natureza mundana”.
Foi citada uma fonte desconhecida
que seria próxima dos autores do relatório: “Tudo gira em torno da
não-observância do sexto e sétimo mandamentos”.
O sétimo mandamento proíbe o roubo,
e o sexto mandamento proíbe o adultério, mas está ligado à doutrina católica da
proibição de atos homossexuais, explica o jornal The Guardian.
O dossiê será mantido em um cofre
papal secreto e entregue ao sucessor de Bento XVI quando este deixar o cargo,
segundo La Repubblica.
As palavras do próprio papa foram
apenas que ele não tem “forças de corpo e mente” para prosseguir, e que irá
renunciar em 28 de Fevereiro.
O Vaticano afirma que as
reportagens são uma tentativa de influenciar as eleições do próximo Papa.
A secretaria do Estado do Vaticano
afirma que a Igreja Católica insistiu durante séculos na independência dos seus
cardeais para escolher livremente seu papa, uma referência a eventos passados,
quando reis e imperadores vetaram papáveis ou impediram diretamente que
cardeais votassem.
“Se, no passado, os chamados
poderes, isto é, Estados, exerceram pressões sobre a eleição do Papa, hoje há
uma tentativa de fazê-lo por meio da opinião pública, muitas vezes com base em
julgamentos que tipicamente não capturam o aspecto espiritual do momento que a
Igreja está vivendo”, afirma a declaração.
Enviado à América do Sul: Ettore Balestrero foi promovido, de acordo com o porta-voz do Vaticano |
Alguns observadores do Vaticano especularam
que, devido ao fato de grande parte de seus oficiais serem italianos, os
cardeais podem ser persuadidos a eleger cardeais não italianos ou que não
exercem função no Vaticano, em uma tentativa de impor algum tipo de reforma na Cúria.
O porta-voz do Vaticano, pe.
Frederico Lombardi, afirma que as reportagens "não correspondem à
realidade”, mas que o Papa e alguns dos seus colaboradores mais próximos
recentemente denunciaram o mau funcionamento do Palácio Apostólico.
O cardeal Gianfranco Ravasi, por
exemplo, criticou “divisões, dissidências, carreirismo, inveja” que afligiam os
oficiais do Vaticano. Ele fez declarações na última sexta-feira, penúltimo dia
da semana de exercícios espirituais do Vaticano, da qual participaram o Papa e
outros líderes.
Tributo: Católicos se reúnem para ver o Papa em uma das suas últimas aparições públicas. |
No sábado, nas suas declarações
finais à Cúria, Bento XVI lamentou “o mal, o sofrimento e a corrupção” que
desfigurou a criação de Deus. Mas ele também agradeceu aos oficiais do Vaticano
por terem-no ajudado a “carregar o fardo” do seu ministério com seu trabalho,
amor e fé nesses últimos oito anos.
O ataque do Vaticano à mídia ecoou sua
resposta a escândalos anteriores, em que a tendência foi não se dirigir ao
conteúdo básico das acusações, mas desviar a atenção.
Durante a explosão dos escândalos
sexuais em 2010, o Vaticano acusou a mídia de tentar atacar o Papa; durante o
escândalo dos vazamentos em 2012, ele acusou a mídia de sensacionalismo, sem se
dirigir ao conteúdo dos documentos vazados.
VÍDEO em inglês sobre os oito anos
do papa à frente da Igreja Católica: http://youtu.be/CvyaYNI6dbo
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do
Daily Mail: Vatican backlash over dossier
rumours linking Church to 'gay network' and 'sex parties'
Fonte:
www.juliosevero.com