Eu estou preso. No fim do dia observo meus tijolos em uma balança, ela traduz meu valor baseado naquilo que eu posso produzir. Uma balança, tijolos, e a espera até que venha o comunicado de quanto estou valendo naquele dia. Esperando que eles respondam meu valor naquela semana, pergunto-me o motivo de tentarem medir algo que eu duvido toda manhã, acreditando não ter nenhum. Qual meu valor?
A frustração já consome tudo e habita no coração de milhares, é como se fosse impossível atingir o que eles exigem. Tudo gira em torno do falso valor imposto hoje, ele estabelece como vou me sentir, tanto a qualidade, como a quantidade da comida na minha mesa, as roupas que vou usar, aonde vou dormir e quando vou levantar, ela estabelece quem eu sou. Apanhar virou rotina. O açoite e a ferida são constantes, fazem parte do que eu sou, ou pelo menos do que a balança diz. Quem sou eu?
A dúvida já é comum, ela existe e sonda corações todos os dias. Minha existência e meu valor já são questionados diariamente e aquilo chamado de esperança já começa a soar como miragem.
A busca por aceitação só tem gerado rejeição, algo me diz que é impossível produzir e ser o que eles querem que eu seja. Já começo a falhar em acreditar sobre o boato que dias melhores estão por vir. O que muitos têm é só um boato, muitos afirmam que eles não virão sozinhos, mas que uma espécie de homem vem trazê-los.
Mas vem o dia, a manhã amanheceu diferente, o orvalho desceu de uma forma tão calma como nunca houvera, com rapidez todos se arrumam, chegou o dia, Ele vem, Ele vem! A expectativa aumenta a cada minuto, naquele dia não se ouvir o barulho de talheres a mesa, nenhuma refeição sequer, a espera trouxe vários sentimentos, ansiedade, choro, alegria, alguns tinham até duvida se o gigante viria, é, eram muitos que o imaginam como se fosse um gigante, uma criatura nunca antes vista.
A calmaria no dia vai ser incomum, e no meio da opressão que havia dilacerado cada coração, ele traz consigo pouca coisa, quase nada, mas Ele vem, Ele vem.
