Livro conta histórias de tratamentos de sucesso não aprovados pela medicina

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Aventuras médicas são inspiradas no amor, no desespero e na esperança e alimentadas pela coragem




NOVA YORK - E se você ou seu filho tivesse uma doença crônica que limitasse seriamente ou ameaçasse sua vida ou a dele, e a medicina moderna não oferecesse qualquer tratamento efetivo ou aceitável?


Livro conta histórias de tratamentos de sucesso não aprovados pela medicina
As histórias impressionam pela persistência contra probabilidades extraordinárias Foto: Paul Rogers/The New York Times
Imagine que você possui uma alergia alimentar severa, uma artrite reumatoide, um transtorno de déficit de atenção com hiperatividade ou uma epilepsia sem tratamento. Você estaria disposto a arregaçar as mangas, ficaria desesperado ou seria corajoso o suficiente para sair do âmbito da medicina estabelecida e procurar ajuda de um terapeuta não convencional - mesmo que fosse alguém sem treinamento médico ou científico?
E se você ouvisse falar de outras pessoas em situações similares que experimentaram um suposto remédio que pareceu funcionar ou um método que faz sentido biologicamente?
Em seu novo livro, The Other Side of Impossible (O Outro Lado do Impossível), Susannah Meadows, de Nova York, antiga escritora da Newsweek, reuniu histórias atraentes sobre pessoas que enfrentaram e conseguiram superar desafios médicos assustadores. O livro foca em várias famílias, incluindo a da própria autora, que sentiram que não tinham outra chance se não entrar no mundo das terapias não comprovadas.
As aventuras familiares por um reino que alguns chamariam de charlatanismo são normalmente inspiradas no amor, no desespero e na esperança e são alimentadas por uma coragem e uma determinação irrepreensíveis no sentido de encontrar soluções para problemas de saúde debilitantes que desafiam o que a medicina convencional pode oferecer de melhor.
As histórias impressionam pela persistência contra probabilidades extraordinárias. Como demonstra a resposta de uma mãe quando perguntada como consegue perseverar em meio a uma busca de cinco anos para controlar as incessantes convulsões da filha: "Não podemos não tentar. Ela ainda não está melhor".
Em sua análise dos casos díspares, mas de certa forma relacionados, Meadows destaca pelo menos três influências importantes sobre o bem-estar que ainda precisam receber a devida avaliação no entendimento do que pode causar ou agravar alguns transtornos médicos intratáveis.
Uma delas é uma característica chamada "intestino permeável", que essencialmente são orifícios minúsculos nas paredes intestinais que permitem que proteínas alcancem a corrente sanguínea, onde podem desencadear um ataque brutal aos tecidos saudáveis.
Outra é um desequilíbrio dos micro-organismos no intestino e como a comunicação entre o cérebro e o intestino pode afetar de maneira adversa o comportamento e a estabilidade emocional. A terceira é a ainda subestimada interação entre a mente e o corpo, principalmente o efeito que a ansiedade e o medo têm na resposta do corpo a substâncias que de outras maneiras seriam inofensivas.
Há talvez um quarto fator, disse Meadows em uma entrevista, que parece promover a perseverança na busca pela recuperação de uma condição incurável. "A experiência de lidar com adversidades logo cedo na vida pode vacinar as pessoas contra a desesperança e levá-las a acreditar que, se apenas continuarem tentando, podem ter sucesso."
Ou como diz o filho de uma paciente cuja história aparece no livro. "Coragem é saber que você foi derrotado e fazer alguma coisa de qualquer maneira."
Essa paciente era a doutora Terry Wahls, que superou uma forma progressiva de esclerose múltipla para qual a medicina tinha pouco a oferecer.
Confinada a uma cadeira de rodas reclinável apesar de tentar uma série de tratamentos convencionais, Wahls pesquisou e depois adotou um regime que eliminava os grãos, os laticínios e o açúcar, mas incluía 12 xícaras por dia de frutas vermelhas e vegetais, suplementados com carne de vacas criadas no pasto e peixes gordos. Ela combinou a dieta com estimulação elétrica neuromuscular e exercícios.
Em um ano, Wahls havia abandonado sua assistência motorizada e começou a andar de bicicleta. Oito anos depois, ela não tem nem sinal da doença. No verão passado, a Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla, que vem acompanhando pesquisas sobre alimentação e inflamação, ofereceu mais de um milhão de dólares para o estudo dos efeitos de sua dieta sobre a fadiga relacionada à doença.
Meadows resumiu a lição predominante derivada das pessoas que aparecem em seu livro: "Você tem a escolha de seguir em frente quando os outros dizem que não dá. Eles não tinham qualquer motivo para pensar que poderiam ter sucesso, mas simplesmente não desistiram".
Meadows disse que essa perseverança não era algo que ela entendia quando seu filho Shepherd foi diagnosticado aos três anos com artrite juvenil poliarticular, uma condição incapacitante que afeta várias articulações.
Ela e o marido foram informados de que seria improvável que o menino superasse a doença. Ao ter que encarar a escolha entre não fazer nada ou tratá-lo com um medicamento potente que "fazia com que se sentisse mal e não resolvia a artrite", ela ficou sabendo de outra criança com a mesma condição que melhorou ao evitar glúten e laticínios e ao começar a tomar óleo de peixe, probióticos e consumir uma erva chinesa.
"Não tínhamos nada a perder - se ajudou uma criança, talvez ajudasse a nossa", explicou Meadows. "Em termos de esperança, um exemplo é muito importante." E como ela relatou quatro anos atrás em um artigo para o New York Times Magazine, Shepherd melhorou.
Eventualmente, com a ajuda de uma autoproclamada curandeira chamada Amy Thieringer, que enfatiza a necessidade de acalmar os medos e a ansiedade ao tentar combater sensibilidades alimentares, Shepherd gradualmente reintroduziu o glúten e os laticínios em sua dieta e "agora come de tudo sem problemas, sem articulações doloridas e inflamadas", contou sua mãe.
Apesar de Amanda Hanson ter sido alertada pelo especialista de seu filho Hayden que tentar o tratamento de Thieringer para o menino, que tinha alergias fatais a 28 tipos de alimentos, seria jogar roleta russa com a vida dele, ela sentiu que não tinha outra chance se não tentar.
Inspirada pelo testemunho de outras mães com problemas parecidos e sabendo que os médicos não tinham qualquer solução para as alergias de Hayden, Hanson foi atrás do programa de Thieringer, conhecido como técnica de liberação das alergias.
Pegando emprestadas ideias da terapia comportamental cognitiva, Thieringer primeiro trabalhou para diminuir o medo que Hayden tinha de certos alimentos antes de reintroduzi-los em pequenas quantidades até que ele pudesse consumi-los em quantias normais sem nenhuma reação.
Hayden, que agora está com 16 anos, não sofre reações ruins a qualquer alimento desde que terminou o programa seis anos atrás.
Meadows não faz afirmações sobre curas. Seu livro não é prescritivo, embora descreva a ciência que pode explicar essas recuperações improváveis sobre as quais escreveu.
"Sou uma jornalista relatando o fato de que existem muitas pessoas que estão procurando, e em alguns casos encontrando por conta própria, respostas para problemas de saúde."
Há outra mensagem importante no livro que vale mencionar: os enormes obstáculos para a produção de provas robustas a favor dos tipos de abordagens que trouxeram alívio para as pessoas que Meadows entrevistou.
Os tratamentos frequentemente envolveram uma combinação de intervenções e poucos, se algum, produtos lucrativos. Assim, nenhuma empresa pagaria os estudos necessários, que também provavelmente seriam muito caros e muitos complicados para serem encampados por agências do governo.

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